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RIO — Em meio à disputa global por máscaras, respiradores e equipamentos de proteção, a corrida por medicamentos também vem ganhando força. Maior produtora de genéricos do mundo, a indústria farmacêutica indiana ocupa um papel central neste cenário, mas os efeitos da pandemia do novo coronavírus também se estendem por sua cadeia de produção e distribuição, pondo em xeque a disponibilidade mundial de medicamentos críticos.

 

Segundo a Fundação Indiana de Brand Equity, organização do Ministério do Comércio do país, a Índia é hoje a maior exportadora de genéricos do mundo, englobando remédios, insumos, produtos intermediários, etc. Apenas no ano passado, Délhi exportou US$ 19 bilhões em drogas deste tipo, cerca de 20% de todo o volume mundial, para mais de 200 nações. O país, sozinho, é responsável por suprir 24% da demanda por genéricos nos Estados Unidos. No Reino Unido, medicamentos indianos correspondem a 25% do total, genéricos ou não.

 

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A Índia importa cerca de 70% de seus ingredientes farmacêuticos ativos da China, onde o custo de produção dos materiais é mais baixo. As medidas de isolamento adotadas pelo governo chinês para conter a pandemia, no entanto, atrapalharam a produção dos insumos essenciais para a fabricação de remédios básicos e variados, tais quais antibióticos, antitérmicos, hormônios e vitaminas. Mesmo com a retomada gradual das atividades no país, o cenário ainda não se normalizou, com restrições a voos e quarentenas obrigatórias para quem vem do exterior, por exemplo, acendendo um sinal amarelo.

 

Os efeitos mais diretos disso foram vistos no dia 3 de março, quando Délhi ordenou que a indústria farmacêutica do país cessasse a exportação de mais de 25 remédios e insumos, a menos que houvesse permissão explícita do governo. O Brasil foi um dos países afetados pela medida, uma tentativa de garantir que haverá drogas suficientes para responder aos efeitos da pandemia no país, onde a infraestrutura de saúde é, no geral, bastante precária. Segundo o governo indiano, até o momento, o país vem conseguindo evitar uma escassez doméstica de remédios.

 

Entre as drogas banidas estão o antiviral aciclovir, o paracetamol, o hormônio progesterona vitaminas B1, B6 e B12, e os antibióticos tinidazol, metronidazol, cloranfenicol, eritromicina, sulfato de neomicina, clindamicina e ornidazol. A exportação da cloroquina, droga exaltada pelo presidente Jair Bolsonaro, também foi suspensa. O remédio anti-malária vem sendo usado para testes clínicos, mas não há qualquer comprovação científica de que seja eficiente para fazer frente ao Sars-CoV-2.

 

A decisão foi motivada por um levantamento feito pelo governo indiano que concluiu que 34 drogas não têm fornecedores alternativos e corriam risco de ficar sem estoque no país. Entre elas, a amoxicilina, o cloridrato de moxifloxacino e a rifampicina, usada para tratar a tuberculose, poderiam entrar em falta em razão da pandemia.

 

Segundo fontes ouvidas pela agência Reuters, é possível que algumas das restrições impostas por Délhi sejam levantadas nos próximos dias frente à enorme pressão exercida pelos EUA, onde estão concentrados mais de 20% dos casos de Covid-19 do mundo. Outros países, como a Indonésia e os Emirados Árabes Unidos, também fizeram solicitações formais para que a medida fosse revertida. Não está claro quais remédios seriam retirados da lista de restrições, mas é provável que o paracetamol, um dos analgésicos e antitérmicos mais populares do mundo, seja um deles.

 

Em entrevista no final de fevereiro para a revista científica Lancet, o secretário-geral da Aliança Farmacêutica Indiana, Sudarshan Jain, disse que “ainda não havia motivo para pânico”, pois as grandes companhias do país têm estoques de insumos suficientes para dois ou três meses. Ao New York Times, no entanto, Jain disse que se a pandemia na China e no mundo se prolongasse para além de março, uma disrupção da cadeia produtiva era possível.

 

O governo indiano vem se mobilizando para aumentar sua produção doméstica – mas não está claro em qual velocidade isto aconteceria, mas isto provavelmente acarretaria em um aumento dos preços dos medicamentos, segundo especialistas ouvidos pelo New York Times. Isto, evidentemente, também afetaria a comercialização dos remédios.

 

A quarentena imposta pelo presidente Narendra Modi para conter a pandemia no país também vêm afetando a indústria farmacêutica, de acordo com o jornal indiano Economic Times. Apesar de estarem isentas das restrições, polícias locais vêm impondo restrições à locomoção de pessoas associadas à cadeia de produtiva e de distribuição de remédios, insumos e materiais hospitalares.

 

Diversas das principais indústrias químicas do país também foram obrigadas a cessar ou reduzir suas capacidades de produção frente à quarentena. Isto porque, segundo a imprensa local, químicos não são categorizados como “commodities essenciais” na proibição emitida pelo governo indiano. Vários deles são matérias-primas essenciais para a produção de remédios, sabão, detergentes. Não está claro se isso afetará a exportação de medicamentos ou insumos.

Fonte. O Globo

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